Hoje os meus primos estão aqui. E ver duas crianças brincando me fez pensar em coisas sérias.
É fácil agradar quem ainda viveu pouco. Correndo atrás de uma bola ou um cachorro, brincando de qualquer coisa e gritando só por gritar; estão felizes. Com um gol se sentem os melhores jogadores de futebol do mundo, com uma escultura torta de massinha agem como se fosse do Michelangelo e se a brincadeira ficar chata, é só partir pra próxima.
Olhando pra eles, não tem como não me perguntar quanto tempo vai durar essa pureza, essa ingenuidade. Porque se eles não mudarem sozinhos, o mundo faz esse trabalho por eles.
Alguém vai pisar nos seus castelos de areia sem pedir desculpas e não irão mais elogiar os desenhos deformados que eles fazem com tanto orgulho, um dia alguém vai dizer que aquilo é feio. E eles perceberão que o mundo também é; que as pessoas são egoístas e traiçoeiras e cruéis e têm mais mil defeitos, e mesmo que não se tornem como elas, criarão algum tipo de defesa. Se não se juntar à eles, é melhor construir muros altos, eu diria. E são esses "muros" que afastam, também, os bons dos bons. Se as pessoas ruins estão por toda a parte, as boas devem estar espalhadas, cada uma no centro de uma fortaleza que foi construída por si própria; a proteção que gera afastamento.
Mas não se proteger seria arriscado demais, numa época em que "nem os santos têm ao certo a medida da maldade", como descreveu espetacularmente Renato Russo.
Nos tempos de hoje, ser ingenuo é cavar a própria cova e esperar que alguém jogue a terra por cima de você.